No começo da década de 70,
Zuleica – Zuzu – Angel era uma estilista brasileira badalada nos Estados Unidos
e pronta para tomar o mundo. Presença constante na elite brasileira (composta
de muitos militares), ela enfrentava uma realidade muito diferente em casa.
Stuart, seu filho, havia se aproximado de movimentos de esquerda e estava
atualmente participando do movimento estudantil.
Enquanto se prepara para
comemorar a aprovação de um financiamento que poderia elevar sua marca, Zuzu
recebe a notícia de que Stuart foi preso pelos militares. Ela vai com as filhas
procurá-lo, mas ninguém pode dizer nada sobre Stuart. Os advogados não podem
ajudá-la porque os militares acabaram com o Habeas
Corpus para crimes políticos.
Zuzu é rápida. Utilizando-se de
seus contatos com as esposas da alta sociedade, ela consegue ajuda de um
General que vai com ela para procurar seu filho. Sem sucesso. Militar após
militar, todo negaram estar com Stuart. Com a insistência para achar seu filho,
ela vira alvo dos militares que começam a mantê-la sob vigilância.
O filme é alinear e vai e volta
no tempo para nos mostrar que Zuzu foi uma mulher que enfrentou paradigmas desde
muito cedo na vida. Com o ex-marido, um americano, teve três filhos. Quando se separaram,
ela retornou com os filhos para o Rio de Janeiro apenas para conviver com o
estigma de que “mulher desquitada é tudo vagabunda”.
Um dia, ela recebe uma carta de
um companheiro do filho narrando a morte de Stuart. Ele conta como foi a
captura dos dois e como foi o processo de tortura. As cenas são fortes. Como
diz um dos militares: “A tortura é uma questão de tempo… e de dor”. As torturas
a que Stuart foi submetido foram coisas mais do que tenebrosas e brutais. A
busca de Zuzu agora muda. Ao invés de buscar Stuart nas prisões, ela começa a
buscá-lo em cemitérios. Stuart morreu por conta das torturas e ninguém sabe
onde está o seu corpo.
E aí, a mulher que pedia para o
filho “deixar disso”, que tentava evitar dar opiniões políticas muito firmes,
passou a bater de frente com os militares. Ela procura jornais, sem nenhum
retorno. Ela faz cópias da carta que recebeu e envia para todos os
intelectuais, políticos e a maioria das pessoas influentes com quem tinha
contato. Seus olhos estão abertos para a realidade ainda que ela própria
continue sendo ignorada. Seus vestidos de flores não importam mais.
A melhor parte é o julgamento de
Stuart… depois de morto. Ele é inocentado, mas já não adianta mais. É uma
palhaçada sem tamanho.
Luana Piovanni interpreta Elke
Maravilha, amiga e modelo de Zuzu. A própria Elke faz uma participação
especial. O desfile seguinte de Zuzu seria emblemático: os tons vibrantes e
agradáveis dão espaço a tons escuros e estampas pesadas. Ao final do desfile ela
entrega uma foto do filho para todos os presentes. Ela queria que a imprensa
internacional contasse a verdade. Mal sabe ela que pedir ajuda nos EUA é o
mesmo que nada, já que o país apoiou o golpe e os Governos militares
subsequentes. Ainda assim, ela não deixa de tentar.
Patrícia Pillar é incrível. Não
sei quantos corações dar para essa mulher. Atuação fantástica. É um filme
grande, com boas atuações sobre uma vida verdadeiramente trágica. Zuzu morreu
em um acidente de carro que, anos depois, foi reconhecido como atentado.
Ninguém nunca foi preso pela morte nem de Zuzu, nem de seu filho (cujo corpo
foi jogado no mar). Recomendo ver e rever e ver de novo, mas separe muitos
lencinhos e esteja certo de que está em dia com o cardíaco.
Chico Buarque, amigo da
estilista, escreveu uma música (Angélica) para Zuzu após a sua morte que é
absurdamente triste.
“Quem é essa mulher
Que canta sempre esse
estribilho?
Só queria embalar meu
filho
Que mora na escuridão
do mar”
*Resenha originalmente publicada no blog O Poderoso Resumão e gentilmente enviada pela Patrícia. Obrigada, Patrícia! :)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por acompanhar o nosso projeto! :)