sexta-feira, 25 de setembro de 2015
Lendo a Ditadura: 1968 - O ano que não terminou + O que fizemos de nós
Vídeo da Gisele Eberspächer, do canal Vamos falar sobre livros?, sobre dois livros do Zuenir Ventura, para o projeto Lendo a ditadura.
quinta-feira, 17 de setembro de 2015
Zero - Ignácio de Loyola Brandão
Publicado em 1974, primeiramente na Itália e só depois no Brasil, Zero é um romance que oferece um retrato pungente de sua época, pois foi escrito pela necessidade de grito diante da Ditadura Militar Brasileira (1964-1985), um período marcado pela censura cultural e o controle dos indivíduos no que eles tinham de mais íntimo, assim como a prisão, tortura e assassinato de pessoas que se opusessem de qualquer forma ao regime.
Extremamente experimental, Zero é um dos romances mais incomuns com que um leitor pode ser deparar na Literatura, pois ele intenta retratar o caos tanto no conteúdo quanto na forma e isso fica evidente pelos vários tipos de textos que se apresentam ao longo da narrativa: a simulação de recortes de jornal, propagandas, cartazes, inscrições de banheiro, letras de músicas e inúmeros outros tipos de texto vão criando uma paisagem do país e seu contexto histórico-social. A diagramação é inusitada, semelhante a de um almanaque, com diversas tipografias, para cada gênero de texto e para cada tipo de efeito. O autor queria ter utilizado até quadrinhos no corpo do livro, o que não foi possível na época de publicação. Além disso, as notas de rodapé oferecem um ponto de vista à parte, com o próprio autor (ou um narrador onisciente, como queira) conversando com a história e ironizando o que está sendo feito ou dito pelos personagens.
O protagonista de Zero é José Gonçalves, um homem comum, que mata ratos num cinema vagabundo. Ele conhece Rosa, sua futura esposa, através de uma agência matrimonial e vive uma relação de amor e ódio com ela, com inúmeros momentos tanto de intensas atividades sexuais como de enormes brigas. Ao longo do livro, José vai se tornando cada vez mais inconformado com o mundo e sua situação neste, até que torna-se um criminoso, e a partir daí o livro vai ficando cada vez mais caótico e violento. O personagem é um símbolo exagerado do inconformismo e do caos:
“Eu fico puto da gente ir aceitando assim, por aceitar, porque está pronto, não precisa mexer. Na verdade, não é bem puto, eu fico confuso, me atrapalha. Às vezes, para mim, uma coisa é quatro e não sete, como eles estão dizendo, mas eles não podem ver como eu posso, que ela é quatro. Eu sinto dentro de mim a linguagem das coisas me dizendo: eu não sou isso, sou aquilo. E tenho que acreditar nas coisas, sejam pedras, paus, plásticos, ferros, papel, flores, o que for."
Enquanto ocorre a saga de José, acompanhamos outras pequenas sagas, e a partir delas o autor aproveita para fazer várias críticas à situação dos brasileiros. Um exemplo disso é a história de Carlos Lopes, que enfrenta uma burocracia esdrúxula e massacrante para que o filho doente seja atendido por um médico. Em outro momento ele põe em foco a falta de identidade dos conjuntos habitacionais, com a personagem Rosa perdida quando volta para sua casa pela primeira vez e não sabe localizar onde mora. Ele ironiza a sufocante padronização de tudo, a proibição do pensamento, do sexo, do prazer, sobretudo das mulheres.
Na edição comemorativa de 35 anos da Global Editora há um depoimento do autor chamado “E se eu não tivesse tido coragem de publicar o Zero naquele ano de 1974?" em que ele comenta como o livro foi se formando, a partir de vários textos que eram censurados no jornal Última Hora, local em que trabalhava na década de 60. Brandão imaginou que tudo aquilo poderia ser aproveitado, uma história que contasse aquilo que não poderia ser dito. Tudo é narrado da forma mais enxuta possível, pois o leitor já conhece a realidade do que lê. Não há necessidade de muitas descrições, daí o grande número de sugestões, com a enorme variedade de textos que compõem o romance. Não é exatamente um livro para apreciar a leitura: é um livro para pensar e para constatar que o passado não faz a menor falta.
*Texto publicado originalmente no blog Ficções do Interlúnio para participar do projeto Lendo a Ditadura.
sexta-feira, 11 de setembro de 2015
O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias
O
ano é 1970 e a Copa do Mundo do México se aproxima. Nada poderia ser mais
empolgante para o pequeno Mauro (Michel Joelsas), garoto de 11 anos apaixonado
por futebol. Só que a ansiedade pela estreia da seleção dá lugar a uma espera
triste e angustiada por um telefonema dos pais, que são obrigados a ‘sair de
férias’ repentinamente, deixando o menino aos cuidados do avô paterno.
O
filme começa com Mauro jogando uma partida de futebol de botão, que é
interrompida bruscamente pela chegada do pai, que já entra em casa apressado,
pegando malas e arrastando para o carro esposa e filho. Durante a viagem para a
capital de São Paulo, é nítida a tensão da mãe, dividida entre o que queria e o
que precisava fazer, e o deslumbramento do menino diante dos edifícios altíssimos
do centro da cidade e do caminhão militar na estrada. Diante da porta do prédio
do avô, Mauro recebe beijos rápidos de despedida e a recomendação de dizer que
os pais saíram de férias a quem perguntasse por eles. E ali ele fica, sem
entender direito o que está se passando.
O
destino decide que é um bom momento para pregar uma peça e acontece de Mauro
descobrir que o avô havia morrido naquela mesma manhã, deixando-o sozinho no
mundo. A contragosto, ele é acolhido pelo vizinho do avô, Shlomo (Germano
Haiut), um judeu idoso solitário que não sabe muito bem o que fazer com uma
criança. O choque de culturas e hábitos é incômodo para os dois, mas ambos
acabam se adaptando e desenvolvem uma bonita relação. Enquanto aguarda um
contato dos pais, Mauro conhece outros moradores do bairro, faz amizade com as
crianças, se apaixona platonicamente pela atendente da lanchonete e vivencia
toda a emoção da Copa.
Fica
claro desde os primeiros minutos que os pais de Mauro são militantes da
esquerda fugindo da ditadura, mas o diretor foi muito feliz e bem-sucedido ao
abordar esse período tão violento da história do país pela perspectiva de um
menino. Em momento algum a dura realidade do que acontecia é deixada de lado;
ela é apenas diluída, suavizada pelos personagens adultos para poupar a criança
de um sofrimento que ela ainda não é capaz de entender.
O
filme consegue dosar perfeitamente momentos divertidos (como quando Hannah
(Daniela Piepszyk), a única menina da turma, cobra entrada dos garotos para que
espiem pelo provador da loja de roupas da mãe – uma travessura clássica de
outros tempos) com aqueles que demonstravam a brutalidade da ditadura (pessoas
do bairro sendo agredidas pelos militares e detidas para interrogatório).
A
escolha do futebol como pano de fundo também é muito significativa: enquanto
milhares de pessoas fugiam, apanhavam, eram mortas por tentarem mudar a
situação política do país, outros milhares pareciam desconhecer o que se
passava, hipnotizados pelo campeonato mundial. A decisão do próprio Mauro, de
ser goleiro, é emblemática: ele é aquele que fica a maior parte do tempo
sozinho, observando o que se passa ao redor e tentando entender, enquanto
espera pelo pior.
Um
filme que fala de amizade, de diferenças, de escolhas e de amadurecimento. Mais
que recomendado!
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Resenha originalmente publicada no Resumo da Ópera e cedida para o projeto Lendo a Ditadura
segunda-feira, 7 de setembro de 2015
Mulheres, ditadura e memórias
Vídeo gentilmente gravado pela Agna Farias, especialmente para o projeto Lendo a ditadura. Obrigada, Agna!
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